Chapter ninety-seven

São Paulo, 6 de junho de 2019 (quinta-feira)

Parece que quando chega o inferno astral, ele chega chutando a porta.
Ontem foi o amistoso da seleção em Brasília e o Junior acabou se lesionando na metade do primeiro tempo. Apesar de ter recebido o apoio dos torcedores antes da partida e durante, ele realmente não estava com cabeça e tudo isso é refletido nas energias né. Agora recebemos a notícia de que o grau da lesão vai cortá-lo da Copa América. É, nada está fácil.
Eu tenho sido atacada constantemente por ser mãe do filho do Junior e por ser uma advogada à frente de um projeto pra acolhimento de mulheres vítimas de violência sexual e estar defendendo um homem que está sendo acusado de tal ato. Mas não me arrependo! já privei meu perfil no Instagram, limitei comentários e etc., porque só assim vou ter paz. O que nos preocupa mais dentre as consequências de toda essa situação é o fato de o Davi ter passado a estudar em casa por conta dos ataques que ele vinha sofrendo dentro da escola. Está realmente tudo muito difícil!
Eduarda: ele vai vir pra cá? - perguntei a Rafa, que estava aqui em casa e tinha acabado de falar com o pai dela
Rafa: não, ele vai pra Mangaratiba e pediu pra gente ir pra lá, os meninos também vão
Eduarda: você vai?
Rafa: acho que sim, vamo?
Eduarda: vai ser bom pra ele ficar perto do Henry né - ela assentiu - você vai amanhã?
Rafa: pode ser, ele vai pra lá daqui a pouco, os meninos também vão
Eduarda: então me ajuda a arrumar minhas coisas e do Henry, só vou ligar pro Maurilio pra ver se eles vão precisar da minha presença em alguma coisa por esses dias - ela assentiu
Rafa: vou subir então pra ver as coisas do Henry
Eduarda: tá bom - disse e ela subiu. Eu liguei pro Maurilio, perguntei se haviam novidades e se precisariam de mim, ele disse que não e que eu poderia ir tranquila. Depois liguei pro Junior porque desde a notícia de que ele seria cortado nós não nos falamos. Chamou umas quatro vezes e ele atendeu
Junior: oi Du - disse com a voz baixa
Eduarda: como você está?
Junior: mal pra caralho ne, tudo dando errado de uma vez só, parece que eu fui o escolhido pra ter tudo de ruim agora - disse mais revoltado do que triste
Eduarda: para de falar isso! fases ruins existem, Junior! e nem sempre elas vão acontecer em um longo espaço de tempo, fica calmo, vai ficar tudo bem
Junior: eu to cansado de ver todo mundo dizer que vai ficar tudo bem e depois de uns dias tudo piorar, Eduarda, eu só queria que já estivesse tudo bem - eu respirei fundo
Eduarda: amanhã eu vou pra Mangaratiba com a Rafa e o Henry tá?! aí a gente conversa e você se distrai um pouco
Junior: tá - suspirou
Eduarda: você não vai mesmo no casamento da Carol e do Vini?
Junior: não, já até falei com eles, eu to com zero clima pra ficar vendo gente em lugar fechado pra ficar falando de tudo isso que tá acontecendo, zero clima pra festa também
Eduarda: tá, então eu também não vou
Junior: por que?
Eduarda: eu e o Henry vamos ficar com você
Junior: você não precisa fazer isso, não tem necessidade
Eduarda: mas eu quero, você precisa do Henry por perto e tudo que eu puder fazer pra que isso aconteça, eu vou fazer - ele ficou alguns segundos em silêncio
Junior: e como ele tá?
Eduarda: tá bem, na sonequinha da tarde dele - sorri
Junior: a Rafa tá aí né?!
Eduarda: sim senhor - falei com ele por mais uns cinco minutos e nos despedimos. Eu sei que eu e ele não estamos juntos e eu não precisaria estar fazendo tudo isso por ele, mas eu quero, porque o Junior antes de ser meu namorado e pai do Henry, ele foi e É meu amigo. Então se eu posso fazer, eu farei, não importa o que digam.
[...]
Depois de almoçar com a Rafa, nós subimos e fomos terminar de arrumar as malas pra amanhã. Enquanto eu guardava as coisas, ouvi a campainha tocar
Rafa: eu vou lá - se levantou da cama e saiu rápido do quarto. Fiquei tranquila porque se não precisaram avisar da portaria, com certeza era o Cadu. Depois de uns dois minutos confirmei minha suspeita com ele entrando no quarto com a Rafa
Cadu: e aí Du - deu um beijo na minha testa
Eduarda: oi - sorri - tudo bem?
Cadu: tranquilo - se sentou na cama - e você?
Eduarda: bem também
Cadu: cadê o moleque?
Eduarda: dormindo né, comeu pra caramba - ele riu
Rafa: vamo pra Mangaratiba amanhã? - perguntou a ele, que a olhou
Cadu: amanhã que horas?
Rafa: amanhã de manhã né, de noite a gente volta pra ir pro casamento sábado
Cadu: pode ser, não tenho escala amanhã e a de sábado eu já tinha mudado pra domingo - a Rafa assentiu - você vai pro casamento? - perguntou me olhando
Eduarda: não, vou dar uma força pro Junior, aproveitar pra deixar o Henry perto dele
Cadu: ah, legal - ouvimos o choro do Henry - eu vou lá - nem esperou eu falar nada e já saiu do quarto
Rafa: fissurado no menino - rimos e meu celular começou a tocar, olhei e era o Caio, primo da Luana, que eu comecei a conversar depois de ela nos apresentar a umas duas semanas atrás
Eduarda: já volto - me levantei com o celular na mão e fui pra sacada atender - oi Caio - disse simpática
Caio: oi Duda, tudo bem?
Eduarda: tudo sim e você?
Caio: bem, graças a Deus - fez uma pausa - é... então, eu tava pensando aqui e, o que você acha de a gente sair pra comer alguma coisa esse final de semana? - eu pensei um pouco
Eduarda: ai Caio, bem que eu queria, mas amanhã estou indo pro Rio e só devo voltar durante a semana - nessa parte eu não fui tão sincera, porque provavelmente eu vou voltar domingo
Caio: ah, te entendo - ele sempre entende tudo - mas aí você me avisa então pra gente marcar algo, pode ser bom pra você esfriar a cabeça um pouco
Eduarda: claro, assim que eu voltar pra São Paulo eu te aviso e se estivermos livres a gente marca sim
Caio: beleza então e o Henry, tá bem?
Eduarda: tá sim, graças a Deus - sorri
Caio: então tá, eu vou desligar aqui, mas qualquer coisa me manda mensagem, se precisar conversar e tal, sabe que tô aqui
Eduarda: eu sei e te agradeço tá?! obrigada
Caio: beijo
Eduarda: beijo - desliguei, respirei fundo passando a mão no rosto e fiquei ali um tempo ainda. O Caio é super gente boa, maravilhoso comigo e a gente meio que desenvolveu uma relação legal de amizade, mas com o claro interesse dele em mim. Só que como eu já disse antes, eu me travo pra qualquer tipo de relação nova, tanto que nós só nos vimos uma vez, que foi no aniversário da Luana e depois disso só nos falamos por WhatsApp ou ligação. Eu realmente não me sinto preparada pra me abrir pra outras pessoas, apesar de o Caio ser super gentil, compreensivo e carinhoso comigo
Cadu: acorda Eduarda - me despertou dos meus pensamentos e eu o encarei, percebendo que o Henry me olhava em seu colo
Eduarda: oi amor da mamãe - sorri e ele sorriu de volta, se jogando em meus braços

Mangaratiba, 7 de junho de 2019 (sexta-feira)
Acabamos de chegar em Mangaratiba. Viemos eu, Rafa, Cadu e Henry. A Ágatha e a Bianca já haviam chegado ontem de noite com os meninos e a Nadine
Eduarda: nossa, eu estou completamente cansada - disse enquanto pegava uma roupa na mala pra me trocar
Ágatha: cansada de tudo né?! - disse sentada na cama do quarto que eu estava
Eduarda: exato
Bianca: mas você sabe que não pode ficar deixando essas coisas te consumirem né Duda, o excesso você sabe que faz mal
Eduarda: eu sei, mas é mais forte que eu
Ágatha: você precisa sair pra espairecer, distrair um pouco, sei lá, conhecer gente nova
Eduarda: o Caio me ligou ontem querendo marcar de sair esse final de semana - elas me olharam
Ágatha: o engenheiro gato, primo da Luana? - eu assenti - e o que você tá fazendo aqui? - a Bianca riu
Eduarda: o Junior está precisando dessa força e eu to com zero cabeça pra me envolver com alguém agora
Bianca: mas você não precisa se envolver com ele, ele só te fez um convite né, podem estreitar a amizade
Ágatha: alcançar o nível da amizade colorida não seria de todo mal também - eu ri
Eduarda: não sei gente, não to pronta
Ágatha: Duda, é sério, você precisa sair um pouco disso de Neymar pai do Henry, Neymar seu cliente, Neymar seu ex - eu a olhei - eu amo o ene jota e você sabe, mas tu não pode ficar presa em resolver as coisas dele ou deixar de fazer as suas coisas pra pensar no bem estar dele, sendo que a situação só tá nesse nível por conta das decisões e escolhas erradas dele
Bianca: assino embaixo! a gente sabe que tudo isso tá sendo difícil pra você, por tudo que envolve e etc., então seria muito bom pra você sair um pouco, conversar com o Caio, curtir algo diferente, sei lá, você precisa viver
Ágatha: exatamente amiga, o ene jota não ficou pensando em nada disso ou se prendendo por ainda amar você e a prova disso é essa situação horrível, que eu não culpo ele, óbvio, mas foi graças a escolhas que ele mesmo fez, então se eu fosse você eu saia sim com o Caio, nem que fosse só pra serem amigos mesmo, sem maldade nenhuma - eu fiquei a olhando - e ainda deixava o Henry com o ene jota pra cuidar enquanto você curte - eu gargalhei
Eduarda: vocês são péssimas - rimos - eu prometo que vou pensar em tudo isso e quando voltar pra São Paulo eu resolvo
Bianca: só não fica se prendendo, vai sem medo - eu assenti
Eduarda: só não comentem sobre essas coisas perto da Rafa tá, ontem ela já ficou meio estranha com isso
Ágatha: irmã dele né, não dá pra julgar - eu assenti
Gustavo: Dudinha, acho que o Henry tá sentindo sua falta lá embaixo - disse depois de bater na porta e aparecer lá dentro
Eduarda: normal né, ele não é acostumado com todo mundo junto assim - ri
Ágatha: vamos descer pra resgatar o Henry - rimos e fomos saindo do quarto. Descemos e o Junior estava balançando o Henry enquanto ele resmungava
Junior: eu acho que ele tá é com fome - disse me olhando
Eduarda: pode ser, mas acho que ele não vai querer mamar - o Henry ficou em silêncio depois de ouvir minha voz
Jota: maior puxa saco - rimos
Bianca: ele sabe que ela tem leite né, se não vier comidinha, pelo menos tem o que tomar - riu
Nadine: exatamente isso - riu também
Eduarda: é, mas hoje eu estou seca, ele vai ter que comer algo mesmo, vou lá na cozinha ver o que eu posso dar pra ele - dei um beijo no mesmo - você segura aí? - perguntei ao Junior
Junior: claro né, sou o pai dele - eu fiz uma cara de desdém e os meninos riram [...] depois de todos almoçarmos, o Junior conseguiu fazer o Henry dormir, já que ele estava bem irritadinho por termos acordado cedo e todos nós fomos lá pra fora - os caras lá falaram mais alguma coisa? - se referiu ao caso
Eduarda: não, só da outra continuar dizendo que roubaram o tal tablet com as filmagens, mais do mesmo - balancei os ombros
Junior: ela tá metendo o louco, sabe que não tem nada e inventa isso
Eduarda: é óbvio né, ela quer ganhar tempo pra inventar algo melhor, mas o tiro vai sair pela culatra, o último advogado já não comprou a ideia dela, então no fim vai ficar tudo bem - ele me olhou enquanto eu observava os meninos “jogando” basquete e eu o encarei
Junior: obrigado por estar comigo nessa
Eduarda: não precisa agradecer, você é pai do meu filho e meu amigo - olhei pra frente de novo

Junior on
Comecei a sentir a Duda meio diferente, querendo se esquivar de mim, sei lá. Eu imagino que não deva estar sendo fácil pra ela, porque eu nessa situação não conseguiria agir da mesma forma, mas ela consegue disfarçar bem
Junior: vocês vão ficar quantos dias aqui? - perguntei pra quebrar o silêncio que tinha se instalado enquanto víamos os meninos zoando as meninas
Eduarda: acho que domingo já vou embora, segunda eu preciso encontrar com o Marilio e o Davi no escritório
Junior: ah, pensei que fossem ficar mais
Eduarda: não vai dar
Cadu: ae, se liga nisso aqui ene jota - gritou antes de eu responder a Duda e eu o olhei
Junior: ah, nem fodendo - ri enquanto via ele acertando a cesta do meio da quadra
Junior off

A insistência das meninas pra que eu saísse com o Caio acabou me deixando pensativa e eu estou quase cedendo a essa ideia. Não quero ficar abrindo espaço pra eu ou o Junior confundirmos tudo que está acontecendo e acabar estragando o que se tornou legal. Meu foco agora é realmente a inocência dele.
Fui despertada dos meus pensamentos com meu celular tocando, olhei e era o Davi (advogado), então atendi logo
Eduarda: oi Davi - me levantei do lado do Junior e me afastei um pouco
Davi: oi Eduarda, tá podendo falar?
Eduarda: claro, aconteceu alguma coisa?
Davi: notícia boa, conseguiram o tal vídeo que a Najila e o advogado falavam
Eduarda: e isso é bom?
Davi: eu estou te mandando ele agora e você vai entender que sim, é bom! não tem nada que incrimine o Neymar ou que dê indícios de que ele realmente fez tudo isso - eu respirei aliviada
Eduarda: ainda bem, mas qual é o intuito deles se nesse vídeo não tem nada?
Davi: agora ela alega que o vídeo tem outras partes que foram perdidas, mas a gente já mandou pra um perito e em uma primeira análise ele disse que com certeza esse vídeo não tem muito mais do que dois minutos faltando
Eduarda: então já é ponto pra nós né, vai dar tudo certo
Davi: vai! eu só preciso que você analise o vídeo, veja a reação dela, porque você já teve e tem vivência com mulheres que passam por esse tipo de violência, quero saber se tem a mínima possibilidade de ela pelo menos ter se sentido assim ou se parece tudo calculado demais, não quero julgar sem ter certeza
Eduarda: claro, eu vou ver isso agora e já te dou o meu parecer em relação a atitude dela
Davi: ótimo! segunda-feira podemos contar com você né?!
Eduarda: óbvio! domingo eu estou voltando e a gente já dá início a todas essas coisas, principalmente a linha de raciocínio que vamos usar pra deslegitimar essa acusação infundada
Davi: perfeito, nos vemos segunda então! até
Eduarda: até! - desliguei e já entrei no WhatsApp pra ver o tal vídeo. Confesso que me deu uma dorzinha no peito de ouvir ela batendo nele e ver ele sendo atacado, aparentemente sem nem entender o porquê
Junior: o que aconteceu? - chegou do nada do meu lado com suas muletas e eu o olhei - você tá chorando? - quando ele disse isso eu percebi que havia escorrido uma lágrima no meu rosto e a sequei rápido
Eduarda: eu, eu estava vendo o vídeo que a Najila diz
Junior: e aí?
Eduarda: aquele tapa dela foi na sua cara? - ele me olhou - no vídeo tem um som de tapa, foi na sua cara que ela bateu?
Junior: foi, eu fiquei puto com isso, mas tentei manter a calma, aí ela jogou a taça em mim
Eduarda: Júnior, por que você não me falou nada disso antes? - passei a mão no rosto
Junior: ela não me machucou tá, fica tranquila
Eduarda: não é questão de ficar tranquila caramba! toda vez vai ser um baque diferente descobrindo pela mídia ou pelos outros advogados tudo que aconteceu em Paris
Junior: eu não quis e não quero que você fique sentindo essas coisas, só quero te poupar, Duda
Eduarda: você não tem mais essa opção, você me pouparia se não tivesse se envolvido com qualquer uma logo depois de a gente terminar, acho que é meio tarde pra se importar com o que eu estou sentindo ou não
Junior: não fala desse jeito, assim parece que eu sou culpado por tudo isso
Eduarda: pela situação você é culpado Junior - ele ficou me olhando - mas enfim, eu sou sua advogada agora, eu PRECISO saber das coisas que aconteceram, ou então eu saio disso e você se resolve com o Maurilio e o Davi
Junior: não! eu preciso de você e confio em você pra estar comigo nisso tudo, me desculpa por ter que te colocar nessa situação e por fazer você passar por isso, eu só não quero que você esteja comigo se isso estiver te machucando de uma forma que não dê pra você continuar
Eduarda: eu vou te mandar o vídeo e depois a gente conversa sobre - ignorei tudo que ele disse e saí andando. Está realmente difícil manter a postura diante de tanta coisa. As vezes ate me sinto culpada pelo fato de o término ter partido mais de mim do que dele, mas eu sei que não posso ser responsabilizada pelas atitudes que ele teve depois [...] entrei na casa e subi pro quarto, olhei o Henry e ele ainda dormia, então aproveitei e dormi um pouco também porque estava cansada de tudo isso, mas antes mandei meu feedback pro Davi sobre o vídeo.

Mangaratiba, 9 de junho de 2019 (domingo)
Hoje já é dia de ir embora, mas só vamos depois do almoço a pedido da Nadine! o Henry essa noite dormiu com o Júnior e eu consegui estar mais tranquila. Ontem conversamos sobre o vídeo e sobre o que aconteceu depois do que foi divulgado e, se ele está sendo sincero, não teremos grandes problemas pra conseguir pelo menos o arquivamento desse processo. Depois de escovar os dentes eu voltei pro quarto e meu celular estava tocando, era o Davi mais uma vez
Eduarda: oi
Davi: Eduarda, precisamos acertar alguns pontos sobre o último depoimento da Najila e tem que ser com o Neymar presente, será que conseguimos aproveitar sua presença aí e fazer uma videochamada pra falarmos sobre isso?
Eduarda: com certeza sim! eu vou ver se ele já levantou e te aviso quando estivermos prontos
Davi: ótimo! aguardo seu retorno
Eduarda; ok - disse e já desliguei. Me troquei rapidinho, peguei o celular e saí do quarto que eu estava, indo pro do Junior. Bati na porta e em alguns segundos ele abriu a mesma. De samba canção. É.
Junior: oi, bom dia - me despertou dos meus quase pensamentos e eu o encarei
Eduarda: bom dia
Junior: aconteceu alguma coisa?
Eduarda: não... sim! mas nada grave; o Henry ainda está dormindo?
Junior: tá, me deu um baile de madrugada - riu e eu o acompanhei
Eduarda: as vezes ele faz isso mesmo - sorri - Davi me ligou e disse que precisamos falar por chamada de vídeo pra esclarecer algumas coisas - ele assentiu - você prefere tomar café primeiro ou já pode ser agora?
Junior: melhor agora que o Henry tá dormindo né - eu assenti - vou pedir pra minha mãe ficar aqui com ele, entra aí pra eu colocar uma roupa - eu fiquei o olhando - o que? não to pelado, e se estivesse, você já viu tudo - balançou os ombros e eu revirei os olhos - entra - respirei fundo e entrei indo direto na direção da cama pra ver o Henry
[...]
Eduarda: tá certinho aqui né?! - disse ajeitando a câmera de uma forma que enquadrasse nós dois
Junior: tá - se sentou em uma das cadeiras da mesa do escritório e eu me sentei ao seu lado - você que vai chamar ele? - eu assenti enquanto fazia isso e logo o Davi e o Maurilio apareceram na tela. Nos demos bom dia e eles começaram a falar
Maurilio: bom, como o Davi havia dito, nós realmente precisávamos ter essa conversa com o Neymar presente - nós assentimos
Eduarda: temos alguma novidade?
Maurilio: sim e não! no último depoimento da Najila ela disse que o Neymar quis manter relações sem uso de preservativo e quando ela se negou, ele desferiu tapas nas nadegas dela, continuando mesmo com ela pedindo pra que parasse - disse enquanto lia o papel em sua mão
Junior: pelo amor de Deus - riu nervoso e eu passei a mão no rosto
Davi: Neymar, tem alguma parte dessa alegação que seja verdade ou próxima da verdade?
Junior: claro que não po - eu o olhei - eu... - ele me olhou também e depois voltou sua atenção pra eles novamente - nada disso é verdade, não tem nem como! eu não tenho relação com ninguém sem usar camisinha, pelo menos não quando eu mal conheço a pessoa ou não tenho nada sério com ela e eu jamais iria bater em alguém, ainda mais por esse motivo
Davi: você sabe que ela alega ter sido agredida e que tem fotos né?!
Junior: o único momento em que eu dei tapas nela foi durante a relação e enquanto ela pedia, o que eu fiz nela foi realmente só aquilo da foto - eu fechei os olhos e passei o dedo do meio da minha testa até a ponta do meu nariz; quando abri os olhos novamente percebi que o Neymar me olhava de canto. Está realmente puxado tudo isso e eu estou começando a duvidar da minha capacidade de colocar o sentimento de lado nessa situação
Davi: certo! nós só temos que encontrar uma linha pra falar sobre aquelas marcas que apareceram quando ela chegou no Brasil
Eduarda: aquilo eu tenho certeza quase que absoluta de que é procedimento estético, pra ficar daquela forma com alguém batendo, ela já estaria assim no momento da... da foto que ele tirou - falei a última parte com a força que resta dentro de mim
Maurilio: falamos com algumas profissionais e todas disseram que tem grandes chances de ser - eu assenti e eles continuaram falando, mas eu me perdi nos meus pensamentos e só despertei quando ouvi eles se despedindo - e nós nos vemos amanhã né, Eduarda?
Eduarda: sim, claro! vou esperar vocês no escritório
Davi: ótimo! então um bom domingo pra vocês e desculpa qualquer coisa
Junior: que isso po, é o trabalho de vocês, obrigado - eles acenaram, nós também e a chamada foi desconectada, eu me levantei e o Junior também - então na quinta eu tenho que estar em São Paulo né?! - eu o olhei enquanto ele pegava as muletas
Eduarda: que?
Junior: eles não falaram que ficou marcado pra quinta-feira de tarde o meu depoimento?!
Eduarda: falaram? eu não ouvi, desculpa - ele ficou me olhando - o que foi?
Junior: se você não estiver se sentindo bem com tudo isso eu vou entender se for melhor sair
Eduarda: Junior, eu... - respirei fundo - eu consigo tá, não é uma coisa impossível - fui passar por ele e o mesmo me segurou, eu ia brigar com ele, mas aí ele soltou uma das muletas e me abraçou. Óbvio que eu não esperava, mas precisava desse abraço. Eu sei que quem está em situação delicada é ele, mas isso tudo me tocou em um lugar muito específico. Saber que o homem que você ama se relaciona com outras pessoas é bem diferente de ter detalhes do que acontece
Junior: me desculpa por tudo isso e obrigado por não sair do meu lado - disse ainda abraçado a mim e eu me afastei o olhando em seguida
Eduarda: você sabe que eu estou fazendo isso por um motivo maior e por você ser o pai do meu filho - ele assentiu ajeitando as muletas - mas mais do que qualquer outra coisa, estou fazendo porque eu sei que você é inocente
Junior: eu já disse que isso pra mim já vale tudo, eu só preciso que você acredite - eu assenti o olhando
Eduarda: vou tomar meu café - apontei pra porta do escritório, ele assentiu e eu saí dali
Nadine: alguma novidade? - perguntou com o Henry no colo enquanto eu entrava na cozinha e eu dei um beijo nele
Eduarda: só alguns detalhes pra não sermos pegos de surpresa no dia do depoimento dele - ela assentiu
Nadine: mas tá tudo bem com você?
Eduarda: aham - sorri de canto - tudo certo - olhei pra ela - ele comeu alguma coisa?
Nadine: acabei de dar uma bananinha amassada
Eduarda: ai que bom, eu vou só comer alguma coisa aqui também e já pego ele
Nadine: fica tranquila, você sabe que amo ficar com ele - eu ri fraco
Eduarda: então tá bom - o Junior chegou ali também e aí só eles conversavam. Eu estava em um momento comigo mesma pra poder colocar minha mente em ordem

São Paulo, 10 de junho de 2019 (segunda-feira)
Já estou aqui no escritório esperando o Davi e o Maurilio chegarem e recebi uma noticia que nos ajuda muito! a tal da Najila vai trocar de advogado mais uma vez porque esse outro também desistiu do processo. Isso conta muito, porque se ela tivesse a mínima prova do que ela está dizendo, nenhum advogado ousaria largar o caso sem nenhum motivo maior [...] recebi os dois na minha sala e começamos nossa reunião
Eduarda: então na minha percepção, o que parece ter acontecido nisso tudo é que de início ela pensou em uma agressão física só, mas partiu pra sexual porque seria mais pesado e acabou se enrolando nas alegações, essa mulher entra em contradição desde a denúncia até inventar que roubaram o tablet que depois apareceu com as filmagens
Maurilio: exato! o nosso pensamento também é esse e é por isso que a sua presença com a gente é tão importante! uma visão feminina em relação à tudo isso é bem diferente de ter dois homens defendendo outro de uma acusação tão grave - eu assenti - mesmo que vocês já tenham se relacionado e tenham um filho juntos, a sua ética nesse tempo exercendo a profissão já nos dá mais credibilidade
Eduarda: até porque, se eu achasse que tem a mínima possibilidade de o Neymar ter feito isso, eu jamais aceitaria entrar nessa
Davi: essa é a questão, porque você além de nos ajudar diretamente com seu trabalho e visão, você vai ajudar ele indiretamente só de estar no caso
Eduarda: só temos que tomar cuidado pra isso não virar ou ser enxergado como interesse pessoal! eu vou ser o mais profissional possível durante esse processo e não me colocar tanto como ex namorada e mãe do filho dele
Davi: e a razão é sua! o que nós queremos de você é só a sua capacidade e competência - eu sorri assentindo. Entramos no âmbito do que vai ser abordado durante o depoimento do Junior e já acordamos que na quarta-feira seria bom ele já estar aqui em São Paulo pra repassarmos algumas coisas e detalhes que podem ser colocados em pauta.
[...]
Enquanto eles saiam da minha sala depois de nos despedirmos, meu celular tocou, eu olhei e era o Caio. Fechei minha porta e atendi enquanto ia pra minha cadeira
Eduarda: oi Caio
Caio: e aí, tudo bem?
Eduarda: tudo bem e você?
Caio: melhor agora - eu ri - eu tinha mandado mensagem pra você, mas como não respondeu, resolvi ligar pra não ser enrolado de novo
Eduarda: eu estava em reunião - ri fraco - agora estou disponível
Caio: hm, se está disponível é o momento perfeito pra eu fazer o convite - eu passei a mão no rosto
Eduarda: qual?
Caio: to pertinho de Alphaville, o que você acha de almoçarmos juntos? sem compromisso - deixou claro e eu ri; olhei as horas e ainda ia dar meio dia. Pensei por alguns segundos e resolvi aceitar
Eduarda: não é uma má ideia hein
Caio: nossa, isso tá acontecendo mesmo? - eu ri
Eduarda: para de ser besta, eu estou disponível, então não tenho porque não aceitar
Caio: ótimo então, já é um início - riu - eu te pego ai ou a gente se encontra em algum restaurante?
Eduarda: acho que seria melhor você me pegar... aqui - complementei pra não dar espaço pra outras interpretações
Caio: orra, achei que era só pra te pegar independente do lugar
Eduarda: Caio! - ele gargalhou e eu ri negando - você vem aqui me buscar então?
Caio: vou! Só me manda o endereço certinho que eu passo aí
Eduarda: tá bom, vou te mandar no WhatsApp
Caio: to esperando, beijo
Eduarda: beijo - desliguei e neguei com a cabeça enquanto ria. É, parece que estou me dando a chance de conhecer gente nova e tirar minha cabeça desse furacão.
Enquanto o Caio não chegava eu aproveitei pra ler de novo tudo o que já havia saído sobre essa denúncia e tudo o que iria acontecer daqui pra frente pelo menos até o dia do depoimento do Junior. Uns trinta ou quarenta minutos depois a Michele me avisou que tinha “um rapaz” me esperando na recepção, então agradeci ela, peguei minhas coisas, meu casaco e saí da minha sala vendo o Caio parado perto do balcão. Antes de ir até ele eu conversei com o Marcelo e disse pra ele sair pra almoçar também, já que não tinha necessidade de ele nos acompanhar e nem de ficar me esperando. Falei com a Michele também e me aproximei do Caio
Eduarda: e aí - sorri e o dei um beijo na bochecha, mas fui surpreendida com um abraço, que eu obviamente retribuí - tudo bem?
Caio: óbvio, parei de ser enrolado - eu ri enquanto nos afastávamos e ele me acompanhou
Eduarda: eu não vou entrar em discussão com você - levantei uma mão e ele riu - vamos?
Caio: agora - fez gesto me pedindo pra ir na frente e assim eu fiz até entrarmos no elevador - você sempre trabalha gata assim? - eu me olhei no espelho e olhei pra ele
Eduarda: quem vê pensa que é uma super produção - ri - eu estou normal
Caio: então o seu normal é muito gata mesmo - eu ri negando
Eduarda: você fica levantando minha bola e quando eu acreditar não vale reclamar hein
Caio: mas é pra acreditar mesmo - disse enquanto saíamos do elevador - eu vou achar ótimo - eu o olhei - a reunião rendeu?
Eduarda: muito! fui inclusive muito elogiada - ele destravou o carro e abriu a porta pra mim. Pois é
Caio: elogiada pela sua beleza? não é pra menos - disse entrando no carro também e eu ri
Eduarda: Caio, para! você vai me deixar sem graça - ele riu - é sério
Caio: tá bom, parei - colocamos o cinto - me conta sobre os elogios, eu sei que foram pela sua competência - eu o olhei e sorri. Papai do céu tá querendo me ferrar mesmo
Eduarda: é que no começo eu acabei ficando meio insegura por já ter tido uma relação com o Neymar e agora estar defendendo ele - ele assentiu e eu continuei falando, enquanto ele super se interessava por tudo

Com vocês, Caio Franco, engenheiro de 28 anos e, agora, contatinho da dona Eduarda:

Beijos e comentem!! 😘